21 outubro, 2015

dois poemas doloridos

(tradução: fabiana jardim)

nossa tragédia começa úmida.
numa sala de aula úmida.
com um livro didático úmido.
irrompendo em nós.
roubando-nos de nós mesmos.
um poema. de cada vez.

começa com shakespeare.

a lavagem a quente.
o ácido frio. de
homens e mulheres brancos mortos.
pessoas.

cada um uma tempestade.

batendo. em nossas jovens
casas
tornando-nos ilhas. isolamentos
fáceis.
até que estejamos tão assediados e
feridos
por uma definição de poesia que
tem pele branca e
nós não.
que escondemos nossas escaldaduras. nossos
doloridos.
atrás de nós mesmos e
aprendemos
poesia.
como trauma. como violência. como
apagamento.
mais um lugar em que não existimos.
mais uma forma de exílio
em que deveríamos louvar. honrar
nossa própria inanição.
os pedacinhos de lagnston. phyllis
wheatley.
e
angelou durante o mês de história
negra. são as migalhas. são os
pequenos botes.
que nos oferecem parco descanso.

ser afogado na
rejeição das nuances do
meu próprio ser
explosivo
extraordinário.
e que isso
seja
chamado
educação.
tirar fora o nome do meu
nome.
fora de onde minha poesia nativa
vive. em mim.
e
substituí-la por keats. browning.
dickson. wolf. joyce. wilde.
wolfe. plath. bronte.
hemingway. hughes. byron.
frost. cummings. kipling. poe.
austen. whitman. blake.
longfellow. wordsworth. duffy.
twain. emerson. yeats.
tennyson. auden. thoreau.
chaucer. thomas. raliegh.
marlowe. burns. shelley. carroll.
elliot…

(qual a necessidade de uma criança
negra ser tão embriagada de
brancura)

e então. estamos aqui. bebês
negros. venerando. alimentando
o glutão que é a literatura
branca. mesmo depois de morta.

- lavagem a quente (de njema)

nossa amargura
pela
áfrica.
é
o coração
atrás
do coração.
a dor sem
nome.

- amnésia (de Salt)

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